quarta-feira, abril 06, 2011

Kholer e o Gestaltismo

            A psicologia de gestalt (o termo gestalt remete para forma ou entidade organizada, referindo-se a um objecto específico e à organização que lhe corresponde) surgiu no contexto cultural alemão, entre as duas Guerras Mundias, e atacou as psicologias dominantes (funcionalismo e estruturalismo), tal como fizera o behaviorismo.
            Mas as diferenças entre esta nova psicologia e o behaviorismo logo se vieram a demonstrar, pois os psicólogos da gestal reconheciam o valor da consciência para a sua psicologia (embora criticassem severamente a sua redução a elementos constituintes), ao contrário dos behavioristas.


Fig.1 - Max Wertheimer
(1880-1943)
            Esta nova escola desenvolveu-se a partir do Fenómeno de Phi, isto é, da ilusão de movimento produzido por dois feixes de luz. Esta ilusão foi atentamente estudada por Max Wertheimer, um dos líderes desta escola de pensamento. Apesar de se tratar de um fenómeno tratado até então como sendo do senso comum, as reflexões de Wertheimer transformaram-no numa das críticas mais persistentes à proposta teórica de Wundt.
            Experimenta: Podes, no entanto, pôr facilmente em prática o Fenómeno de Phi. Primeiro, coloca um dedo à frente do nariz (suficientemente perto para que consigas ver duas imagens) e, seguidamente, abre e fecha cada olho alternadamente. O dedo aparentemente saltará de um lado para o outro.


            A reflexão deste investigador centrou-se na explicação da percepção de movimento aparente reduzindo-a a elementos sensoriais simples. Para Wundt, dois feixes de luz seriam sempre dois feixes e nada mais. Então, o trabalho de Wertheimer foi encontrar uma explicação para o aparente movimento. Era necessária a existência de mais do que a soma das partes para justificar a percepção de movimento sem que haja uma deslocação real correspondente e a psicologia elementar e associacionista não bastava para dar conta desses fenómenos.
            Para os gestaltistas, os elementos sensoriais combinavam-se para formar uma estrutura ou forma (Gestalt).




Fig. 2 - Wolfgang Kholer
(1887-1967)
            Contudo, a influência do gestaltismo ultrapassou o domínio da percepção, dando uma contribuição igualmente importante para a investigação da resolução de problemas. Neste contexto, surge Wolfgang Kholer com estudos sobre a inteligência dos chimpanzés ao nível da resolução de problemas.
            Kholer apresentou-nos estudos com um nível de procedimento simples com poucos recursos/utensílios, e procurou sustentar a resolução de problemas na sua relação com a reestruturação do campo perceptivo.
           

As investigações incluiam duas situações experimentais:
·         Uma mais simples, o chimpanzé está dentro de uma jaula, existindo uma vara próxima das grades da jaula e de uma banana pendurada fora da jaula, longe do alcance imediato do chimpanzé;
·         Uma de maior dificuldade, o que diferia da primeira situação era a localização da vara, foi colocada distante das grades, no interior da jaula.


 
O comportamento do chimpanzé ao nível da resolução de problemas mostrava-se distinto nas duas situações. Quando se colocou a vara junto das grades da jaula, mais próxima da fruta, os dois elementos foram percebidos como partes integrantes da mesma situação-problema. Foi fácil para o chimpanzé utilizar a vara para puxar a fruta para próximo de si. Na segunda situação, contido, a distância que existia entre os dois elementos do problema, a banana fora da jaula e a vara colocada no interior da jaula, implicou uma reestruturação do campo perceptivo, isto é, a compreensão dos dois elementos como parte do mesmo problema.
            Para que ocorresse esta reestruturação, seria necessário o insight ou compreensão súbita – a compreensão ou solução imediata do problema – uma forma de aprendizagem resultante de várias tentativas que fornecem a assimilação das relações entre elementos.


Fig. 3 - Insight


            Podemos considerar que as principais diferenças entre a psicologia de gestal e as outras escolas de pensamento anteriores estão presentes no seu posicionamento face a duas dicotomias: interno/externo ou inato/adquirido, por um lado, e parte/todo, por outro.








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